As
surfistas estão dropando as ondas como ninguém. Crescem as conquistas das
mulheres no surfe nos últimos tempos, o que confirma que ao desempenho feminino
no esporte não devem ser impostos limites.
Colaboração
de foto: Masurel/Stergiou/Sloane/Miranda/Smorigo/Getty Images
Desde
que a australiana Isabel Letham surfou em pé pela primeira vez, em 1915,
ninguém segurou mais as mulheres no mar. Elas ainda são minoria, porém o número
de mulheres surfistas vem crescendo. E, melhor: as conquistas femininas têm
sido arrasadoras. São muitas mulheres fazendo história no surfe – dezenas delas
do Brasil – cada uma por um motivo, por sua biografia no esporte, fato que é celebrado
pela World Surf League (WSL), defensora ferrenha de uma postura mais
igualitária entre gêneros. Reconhecidamente, há guerreiras conquistando cada
vez mais o seu merecido espaço em um cenário ainda dominado por homens.
Um
exemplo recente é o da brasileira Maya Gabeira, que arrebentou ao surfar a
maior onda do mundo e fortaleceu ainda mais o seu reconhecimento internacional
com esse feito. Outra atleta de alta performance muito reconhecida no esporte é
Silvana Lima, cearense que tem uma história brilhante: eleita oito vezes a
Melhor Surfista do Brasil, é tricampeã brasileira e chegou ao vice-campeonato
mundial por duas temporadas. Agora, o voo de Silvana no mar será ainda maior,
já que ela irá atrás de uma medalha com a estreia do surfe nos Jogos Olímpicos.
Silvana representará o Brasil em Tóquio no ano que vem ao lado de outra fera,
Tatiana Weston-Webb, sexta colocada no ranking mundial feminino do World Surf
League Championship Tour. Outra que brilha é a jornalista Érica Prado, campeã
baiana em 2006, que criou o "Movimento Surfistas Negras" para
encorajar muitas a se arriscarem pela primeira vez no mar, levando várias delas
ao surfe profissional.
Silvana Lima no Onda do Bem válido pelo WSL Countdown. |
Tatiana Weston-Webb no CT 2019 em Maui, Havaí. |
Maya Gabeira aumentou orecorde no Guinness Book esse ano. |
“A
velocidade era muito alta e com o barulho que a onda fez quando quebrou,
percebi que esta era provavelmente a maior onda que surfei”, diz a carioca Maya
Gabeira, que arrebentou ao surfar a maior onda do ano, de 22,4 metros, 73,5 pés
(batendo o próprio recorde, de 20,7 m, 68 pés). Foi mais alta do que a do
vencedor masculino, o havaiano Kai Lenny. Isso aconteceu no campeonato da World
Surf League na Praia do Norte, em Portugal, o Nazaré Tow Surfing Challenge.
Superação e perseverança
A
ex-surfista profissional e hoje jornalista e apresentadora Érica Prado, que
recentemente venceu na categoria Celebridades Feminino do torneio Onda do Bem,
conta que sentiu na pele a falta de representatividade de mulheres negras no
ambiente do surfe, o que considera “reflexo do racismo cultural que a gente
vive na sociedade”. A falta de patrocínio e de espaço nas mídias foram algumas
das dificuldades que a atleta conta ter passado há 15 anos. “Percebo um avanço,
mesmo que ainda pequeno. Hoje temos muitos movimentos do surfe, as mulheres
mais unidas e engajadas. E a iniciativa da WSL de igualar a premiação foi um
passo de suma importância para o surfe feminino e o esporte em geral. Saber que
a Liga está preocupada com isso é o que faz a diferença. Mas ainda há um
caminho longo a percorrer”, afirma.
Em
maio de 2019, Érica criou o Movimento Surfistas Negras, justamente com o
objetivo de dar visibilidade e mostrar para o mundo que essas mulheres existem.
O primeiro passo foi ter uma página no Instagram (@surfistasnegras). “A partir
do momento que coloquei essas mulheres na rede, o movimento ganhou uma
proporção maior porque outras surgiram, mulheres do mundo inteiro, algumas que
nunca surfaram porque não se sentiam representadas no esporte e, a partir dessa
iniciativa, começaram a surfar. O Movimento abriu portas para várias meninas no
esporte e sempre divulgo Julia Santos, Yanca Costa e Melissa Policarpo, entre
outras. São mulheres que surfam pra caramba e que estão na luta e não têm
patrocínio. Elas estão na situação que a Tita Tavares passou há 20 anos e que
eu passei há 15”, completa.
A
atleta baiana também está no projeto Na Praia Delas, que surgiu de um desejo de
um grupo de meninas falar e fortalecer o surfe brasileiro. Érica conta que
recebeu convite da surfista paulista Nayla Patrizzi (que hoje mora em
Salvador), que também é professora de surfe e bióloga. Depois, a paulista
Potira Rolan (que mora em Santa Catarina), personal training, e a surfista
caçula Yanca Costa (cearense radicada no Rio de Janeiro) se uniram ao grupo.
Hoje o projeto tem um quarteto de mulheres de diferentes idades e estados, com
um podcast e uma página no Instagram (@podcastnapraiadelas). “Todas às
sextas-feiras levamos aos ouvintes a nossa visão sobre temas relacionados a
mulheres no surfe”, conclui Érica.
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